
Antes de ser mãe, li um livro que trazia uma reflexão muito potente: para educar uma criança, é necessário contar com uma comunidade que ofereça suporte nessa jornada. Essa rede de apoio não é apenas um facilitador, mas um elemento essencial para garantir que a maternidade não se torne uma experiência solitária e esmagadora.
Ter uma comunidade presente me possibilita não adoecer, não ser sobrecarregada ou ter minha subjetividade anulada pelas demandas da maternidade. Pelo contrário, essa estrutura coletiva faz com que minha experiência materna seja satisfatória e extraordinária.
No entanto, para que todas as mulheres possam vivenciar a maternidade de forma positiva, é essencial que seus direitos básicos sejam garantidos – alimentação, saúde, lazer e, sobretudo, autonomia. A maternidade não pode ser sinônimo de anulação da mulher enquanto indivíduo. É preciso que ela tenha espaço para ser mais do que mãe, para viver sua sexualidade, seus relacionamentos e suas outras facetas enquanto ser humano.
A Maternidade Como Escolha e Não Como Destino
Historicamente, a maternidade era quase uma condição obrigatória para as mulheres, uma imposição social que restringia sua liberdade e individualidade. Hoje, essa realidade mudou. As mulheres podem escolher se desejam ou não ser mães – e essa possibilidade de escolha marca uma grande transformação social.
No entanto, ao observarmos as gerações mais recentes, percebemos que muitas mulheres vivem a dúvida sobre a maternidade. Esse questionamento está diretamente ligado às condições que historicamente foram impostas às mulheres: a ideia de que a maternidade deveria ser uma responsabilidade exclusiva da mãe.
A Psicologia, em diversos momentos, reforçou essa narrativa ao destacar a importância da mãe na constituição psíquica da criança. Durante muito tempo, prevaleceu a noção de que a mãe era a única responsável pelo desenvolvimento emocional e psíquico dos filhos, o que gerou um peso imenso sobre as mulheres.
A Maternidade Para Mulheres Negras e Periféricas
Quando falamos sobre maternidade, precisamos reconhecer que essa experiência não é vivida da mesma forma por todas as mulheres. Para mulheres negras e periféricas, a maternidade é atravessada por desafios ainda mais complexos, tornando-se, muitas vezes, uma experiência marcada por sobrecarga e vulnerabilidade.
Um dos principais desafios enfrentados por essas mulheres é o abandono nas relações afetivas. Os índices mostram que a quantidade de mães solo negras é significativamente maior do que a de mães solo brancas. Esse fator agrava a sobrecarga materna e amplia as dificuldades enfrentadas no dia a dia, tornando ainda mais urgente a necessidade de políticas públicas que garantam suporte e dignidade para essas mães e seus filhos.
Maternidade e Emancipação: Construindo Novos Caminhos
A luta das mulheres por seus direitos civis tem ampliado as possibilidades de escolha e de existência para além da maternidade. Esse avanço permite que a experiência de ser mãe seja vivida com mais autonomia e liberdade, e não como um dever obrigatório e isolado.
Para que a maternidade seja uma experiência saudável e gratificante, é fundamental que as mulheres sejam vistas e respeitadas como sujeitos plenos, com desejos, individualidade e autonomia. A sociedade precisa reconhecer que criar um filho não deve ser uma responsabilidade solitária, mas sim um compromisso coletivo.
A construção de uma maternidade mais justa e humana passa pelo fortalecimento das redes de apoio, pela garantia dos direitos das mulheres e pela desconstrução da ideia de que a mãe deve carregar sozinha todas as responsabilidades. Afinal, para criar uma criança, é preciso toda uma comunidade.
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